25 de outubro de 2009

caminhos


O que aprendi na Cachoeira do Tabuleiro.
Para tentar mensurar um pouco a dificuldade que tive ao percorrer o trajeto até a cachoeira acredito que tenho que começar dizendo que não sei nadar, eu nunca subi em uma árvore, não sei andar de bicicleta. E o caminho para a Cachoeira do Tabuleiro é difícil não só para sedentários e inexperientes é um caminho perigoso até para os acostumados com trilha. É um caminho longo e sinuoso, que passa pelo rio e por trilhas cheias de pedregulhos até uma queda d'água de 273 metros. Não só íngreme ou difícil é tudo junto.
Mas com essa caminhada pude refletir nas dificuldades e até que ponto vale a pena seguir por um caminho. Quis desistir várias vezes quis chorar outras tantas, e no fim do caminho não tinha feito nenhuma das duas coisas.
Li algum tempo atrás que ninguém motiva ninguém. Isso não é cem por cento verdadeiro. Nos momentos em que parei se tivesse sozinha teria ficado entre as pedras sem dar mais um passo. Mesmo com vontade de desistir ao ouvir as frases dos meus companheiros que diziam “já está chegando” “não vai desistir aqui” “você consegue”eu me senti motivada. Era uma vontade de fazer não só por mim, mas por aqueles que estavam comigo me apoiando. Isso é senso de equipe. Lutar contra o seu limite em prol do resultado de todos. Eu pensei muito durante o percurso em como tinha ido parar lá. Mas é fácil, todo caminho é assim você não sabe no que vai dar, a experiência dos outros não é suficiente para você calcular o que será quando for você. Cada um é diferente do outro e o que pode parecer intransponível para você pode parecer tranqüilo para o outro. Nesse percurso eu recebi dicas valiosas que servem além da caminhada por paredão de pedras. Eu ouvi que para se ter equilíbrio é necessário adquiri-lo antes na mente, que a barreira criada pelo medo é maior do que a barreira natural do caminho e que você deve ficar ereta para caminhar com segurança nem abaixada e nem altiva demais. Durante o caminho não pensei em mais nada além do próximo passo. Isso deveria ser assim em tudo. Como lá não podia imaginar o que estava pela frente me concentrava em onde esta pisando e se meu pé estava seguro o suficiente para dar o próximo passo. Na vida também é assim. Não podemos prever os acontecimentos e forma mais fácil de passar por tudo é sentindo firmeza no presente. Um passo seguro evita uma queda. Quedas!! Não tive nenhuma, mas descobri o medo que tenho delas. É paralisante! O medo de cair não te leva a lugar nenhum e ainda tira sua estabilidade. O medo é mais forte e mais doloroso que as próprias feridas da queda. Ele angustia e toma conta dos seus pensamentos. E o remédio para ele é paciência, autocontrole e coragem.
Durante o caminho optei por escolher às vezes meu próprio instinto e usar o caminho em que confiava mais mesmo que isso trouxesse uma pequena volta. O caminho mais rápido não é aquele que te dá segurança. Em alguns momentos é preciso parar e analisar qual a melhor escolha e testar o terreno antes de pisar. A pressa traz uma intensidade que pode ser prejudicial e destruir todo o trajeto. O importante além da chegada é chegar inteiro. Algo que ficou muito claro é que “Nenhum homem é uma ilha, sozinho em si mesmo; cada homem é parte do continente, parte do todo;”. Sozinha não teria chegado lá jamais. Sem a mão amiga, sem a força na subida, sem a sensação que estava em um grupo a caminhada teria sido impossível. As decisões foram tomadas em conjunto, as vezes um caminhava um pouco mais para verificar se o caminho era seguro. A preocupação com o outro era demonstrada nos avisos das pedras soltas pelo caminho, na melhor opção para os pés em uma escalada. Companheiro de trajeto é aquele que se molha mesmo conseguindo passar por um lugar seco só para segurar sua mão no trajeto pelo rio.
Eu aprendi no caminho para o Tabuleiro que para se chegar a algum lugar de verdade não podemos deixar os que estão conosco desistirem ou para trás. Mesmo que seja preciso um ritmo mais lento o bom é chegar junto. O caminho não é o mesmo para todos é preciso além de observar o seu próprio ritmo entender o dos outros. Tem horas que o melhor é parar e descansar, gastar a energia na pressa de chegar é prejudicar o final. Tudo o que aprendi não dá para escrever mas a sensação é que ao enfrentar um desafio tão grande e que era esperado meu corpo padeceu (to toda arranhada, moída como se tivesse levado uma surra, esfolada) mas na cabeça a idéia é muito clara. Somos impotentes em vários momentos durante os caminhos, temos vontade de desistir, queremos chorar, nos sentimos pequenos mas no fim das contas é preciso romper barreiras. Naquela situação não podia parar, não podia ficar lá embaixo nas pedras sentada e chorando então continuei. Tem que assim sempre desafiar os limites, tirar forças quando elas já se esgotaram. Fazer a cabeça valer pelo corpo que já não responde. E chegar ao final com uma idéia que conseguiu.

3 comentários:

Ge disse...

Lindo relato...nós desconhecemos a força interior que possuímos...em momentos assim, quando podemos contar com as outras pessoas, quando nos permitimos viver novas experiências é que temos uma enorme compreenção de parte dessa força...

railer disse...

bia, eu não acho que você 'nunca' conseguiria fazer esse caminho sozinha. pelo contrário, se fosse preciso, numa emergência por exemplo, você o faria. é nessas horas que a gente descobre o quão forte somos.

sobre motivação, ninguém te motivou além de você mesma. o que fizeram foi despertar essa motivação dentro de você, que é feito por verdadeiros líderes e verdadeiros colegas de equipe.

vencer caminhos faz parte de nossa vida. outros tantos virão, sempre com novos desafios. levante a cabeça e siga em frente!

Jairo Borges disse...

fabi, o extinto de sobrevivência humano é incrível! Qnd ele é posto a prova nos surpreeendemos de verdade!